segunda-feira, 31 de agosto de 2009
SÁBADO de Ian McEwan (um dia do neurocirurgião Henry Perowne)
O mar da infelicidade neural é vasto e profundo.
Devia consultar o que William James escreveu sobre esquecer uma palavra ou um nome, deixando uma forma vazia, atormentadora, que quase define a ideia que outrora conteve, sem contudo o fazer. Mesmo no momento em que estamos a debater-nos com o torpor de uma memória fraca, sabemos exactamente o que a coisa de que nos esquecemos não é.
Para ele, é um artigo de fé, um facto que lhe é confirmado diariamente, que a mente é o que o cérebro, pura matéria, realiza.
É a linguagem pré-verbal que os linguistas apelidam de mental. Dificilmente poderá considerar-se uma forma de linguagem; é mais uma matriz de padrões variáveis, que vão consolidando e comprimindo o significado em fracções de segundo e misturando-o de forma indissolúvel com um cambiante emocional próprio, bastante semelhante a uma cor. Um amarelo doentio.
Há muita coisa nas relações humanas que pode ser explicada ao nível das moléculas complexas. Quem poderá alguma vez imaginar os danos infligidos ao amor e à amizade e a todas esperanças de felicidade pelo excesso ou pela escassez deste ou daquele neurotransmisor?
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